sexta-feira, 26 de março de 2010

O Ataque das Regras


Impuseram-me as regras. Impus-lhes minha resistência. Embora não adiantasse lutar contra o que eles pregavam em prol do meu individual. Pelo menos, era como eu pensava. Me sentia tão protegida, imersa em verdades e mentiras. E eles vêm e me impõem as regras. O ataque das regras. Dos limites e das limitações. Pois eu me defendo: procuro
as excessões. Não é o que dizem? Que toda regra tem sua excessão? Pois se pra toda regra há uma excessão, eu contemplo a ideia de que a excessão às regras é o viver. Viver na histeria, viver na insanidade, viver na plenitude, viver na despretensão, viver no transbordar da vida. Viver no viver de uma vida sem regras. Pois na morada das regras, eu sou a excessão.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Saudade de Estimação


Nossa velha conhecida. Por mais leve, mais breve, mais simples que seja, se mantêm. "Que dor é essa, a da saudade?" quis saber.
"Não sei. O que eu sei é que acostuma-se com ela. Acostuma-se com a falta, pelo menos é assim que devia ser."
"E se a saudade tiver um sorriso encantador?" perguntou.
"Deixe-se encantar, deixe-a sorrir e mais, retribua com o seu melhor sorriso. Domine-a e transforme-a em viver" respondeu-lhe sutilmente.
"Tudo passa" lembrou-se. "E o que vem depois?"
"Só queria sentir que ainda dá tempo de eu ser pra sempre. Cansei de morrer na vida das pessoas." respondeu.
"Você é louco?"
Como resposta, o silêncio invadiu a sala.
Foi assim antes, durante e depois.

quarta-feira, 24 de março de 2010

La nuit des Masques


Já é tarde, sempre é tarde.
Talvez não tão tarde para os que não escutam o passar dos ponteiros no relógio, avisando prontamente o que não se quer ouvir: sim, já é tarde.
Está escuro la fora. Quem se importa? Eles não se importam, sempre preferiram a noite. Calma, plena, escura.
E tudo isso é só uma constatação.
Comecemos do início: la nuit des masques. Ou a noite das máscaras.
Imagine Paris. Agora imagine a noite em Paris. Mais, imagine máscaras.
Douradas, vermelhas, pretas, douradas, douradas.
Máscaras e cores e luzes e poésie e musique e Paris. Infundidas na noite.
"É tarde, é tarde" avisou ele. "Temos o mundo, mas não temos tempo" respondeu ela. E a oniponência noturna não parece mais atingí-los.
Absorveram a escuridão e foram apprécier la nuit, la nuit des masques.

Dias de Chuva

Perdida diante dos fatos.
Cores e consequências. O céu.
Como estará o céu quando enfrentarmos as consequências?
Pessoalmente, gosto do céu cinza.
Cinza, chuvoso. Bem escuro!
Acho que ele condiz comigo.
Apesar disso, procuro gostar de todas as cores - o espectro inteiro.
Um bilhão de sabores, mais ou menos,
nenhum deles exatamente igual, e um céu para chupar devagarinho.
Tenho uma pequena teoria:
Os dias de chuva esclarecem. Incentivam à reflexão.
Conclusões às vezes mais cinzas do que o próprio céu.
Às vezes olhos azuis, talvez buchechas vermelhas,
quem sabe sorrisos amarelos,
Dias de chuva, céu cinzento. Confusão, difusão de cores, sabores, amores,
argumentos, pensamentos, sentimentos. Alívio, dias de chuva!

Insônia Metafórica


Na noite passada, quando eu fui deitar, alguns fatos passaram subitamente pela minha cabeça. Tudo. Problemas, alegrias, decepções, novidades, tudo que me atingiu ultimamente, tanto de forma positiva quanto negativa. Me esforcei para pegar no sono, juro que me esforcei, simplesmente porque precisava dormir para poder trabalhar na manhã seguinte. Mas o esforço foi em vão. Quando percebi eram três horas da manhã e eu não tinha evoluido muito. Nem remédio, nem copo de leite, nem contar carneirinhos, nada teve o poder de me apagar. Então simplesmente aceitei o fato de passar a noite acordada e o fiz da maneira mais agradável possível. Assisti ao meu filme preferido, li o meu melhor livro e passei uma noite agradável, apesar de acordada. E mais, apliquei essa atitude na minha vida. Nem sempre as coisas saem como o planejado, aliás, na maioria das vezes, as coisas não saem como planejamos, e insistir e ir contra os fatos pode acarretar decepções e sofrimento. Às vezes a maneira mais simples e mais sábia, é usufruir do que se tem. Não tem nada a ver com conformismo. Tem mais a ver com perfeccionismo. Se for para ser, tem que ser completo, da melhor forma possível. Se eu não puder fazer da melhor forma possível, eu não faço, porque sei que vou me frustrar. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, faço o pouco que posso, mas faço bem feito. Claro que eu não estou falando da minha noite mal dormida, apesar de verídica, foi só uma metáfora.